Por Mayara Nascimento de Freitas
Embora o tema da ambidestria na governança corporativa não seja um conceito novo, sua relevância cresce à medida em que as empresas percebem, na prática, que a eficiência operacional, por si só, não é suficiente para garantir sua longevidade. Um dos riscos mais relevantes para a solidez dos negócios não se trata apenas da falta de controle, mas também a incapacidade de acompanhar e investir nas transformações do mercado.
A governança corporativa nada mais é do que a estruturação de processos e controles, sempre apoiados no mapeamento de riscos empresariais. Quando a análise de riscos é ampla, inclui não apenas os desafios operacionais, da legislação e eventualmente regulatórios, mas também o avanço contínuo da tecnologia e as mudanças nas dinâmicas de mercado.
É justamente nesse contexto que surge o conceito da governança ambidestra, com o intuito de equilibrar a solidez e monitoramento no presente, mas com parcela de foco na construção estratégica do futuro.
E como isso acontece? Um dos pontos centrais está na existência de áreas distintas dentro da empresa, conduzidas por líderes com perfis complementares e orientadas, geralmente, por dois horizontes estratégicos.
O primeiro horizonte com foco na eficiência e controle operacional, garantindo a conformidade e otimização dos processos internos, e outro, com significativa liberdade para explorar o futuro, através de estudos e análises de novos mercados, na tentativa de antecipar mudanças e fomentar inovações estratégias.
Há quem ainda tenha a interpretação de que antecipar mudanças ou tendências seja uma tarefa quase utópica e, separar tempo para pensar o futuro seja um luxo. No entanto, a velocidade com que novas tecnologias e transformações de mercado emergem não são mais de décadas em décadas. Nesse cenário, o tema não parece mais se tratar de uma mera uma escolha empresarial, e sim uma estratégia de sobrevivência.
No contexto da governança familiar, é de se frisar que essa questão pode se tornar ainda mais crítica, caso não exista a previsão de regras claras para tomada de decisões estratégicas e de investimentos, assim como a sucessão e profissionalização.
Para que a ambidestria se torne uma realidade, um primeiro passo é a criação da área focada em estudos de novos mercados, análise de investimentos estratégicos e aproveitamento das competências centrais da empresa para expandir sua atuação.
No entanto, essa estrutura precisa ser acompanhada de flexibilidade para experimentação, que permita tentativas e erros dentro de um ambiente controlado, sem comprometer a operação principal. A integração também é importante para os dois horizontes dialogarem constantemente com os demais líderes e administradores, garantindo alinhamento estratégico.
Mas não é só, a sustentação financeira é um dos pilares importantes e que justificam tal integração e a transparência entre as áreas, considerando que a área responsável pela exploração do futuro é dependente, ao menos inicialmente, do suporte da operação consolidada para se desenvolver com segurança.
O intuito da presente abordagem é de expor que não há como pensar em estabilidade empresarial se não houver parcela de foco no futuro. A operação, através de bases eficientes de Governança, deve ser a ponte para que as empresas caminhem com segurança entre o presente e o futuro, garantindo sua perenidade, até que os novos mercados e/ou estratégias desenvolvidas, possam caminhar independentes.